Hoje vamos falar de uma pessoa importante para o Instituto de Promoção do Menor de Sumaré, o Dr Jayr Malaquias, delegado de polícia na época, foi um dos fundadores da instituição que foi criada com o nome de Pia Sociedade dos Patrulheiros Mirins de Sumaré e que se transformou posteriormente em Instituto de Promoção do Menor de Sumaré. Hoje aos 84 anos é um dos remanescentes que assinaram a ata de constituição da entidade e que pode contar o fato com muita propriedade, o qual temos a honra de registrar.
Tivemos duas agradáveis conversas com Dr. Jayr Malaquias e ele prontamente se propôs a relatar os motivos que levaram a criação de uma entidade para cuidar de menores naquele ano de 1970. Dr. Jayr, muito gentilmente, escreveu um texto com vinte páginas de reminiscências muito agradáveis de serem lidas, mas devido ao nosso espaço, limitamo-nos em fazer um resumo e, esperamos que reflita pelo menos em parte, toda a emoção que Dr. Jayr colocou no texto completo, o qual fará parte dos documentos de comemoração dos cinquenta anos do IPMS.
Faço esta resenha, escreveu ele, como discreto personagem, lá pelos idos de 1968, quando tive a boa sorte e a honra de ser designado para trabalhar em Sumaré. Repasso a trajetória de minha estada aqui, para o exercício para qual fui designado. Foi longo o tempo de minha labuta nesta cidade. Contudo, mais do que ter cumprido minhas obrigações, angariei muitos amigos. O tempo, esse tempo retroage, imagine: meio século.
Claro que na condição de passageiros que somos todos nesta terra, alguns já cumpriram sua missão, mas vários deles fazem, agora, vivas nossas emoções.
Não se pense que, ao falar-escrever esta resenha, faço-o de forma solta, leve. Ao contrário, ao contar o que vi, o que se fez, e agora como é o IPMS, comove-me o coração. Por sortilégio de quem ama, quando falo de tal episódio no tal ano, eis que me vejo transportado para aquele lugar, e pelas circunstâncias, impressão viva, nem me dou conta de que estou aqui, que estou em 2020, estaria mesmo lá bem longe, naquele ano, por exemplo 1968, ou 1970, etc.
Vamos à história: O despertar para o assunto do menor.
Eu não seria testemunha da saga do IPMS, se não tivesse vindo trabalhar em Sumaré. Para cumular as vantagens de operar com o bom povo dessa cidade e, tive a honra e alegria de trabalhar com dois amigos excelsos, o Dr. José Geraldo Barreto Fonseca, juiz de direito, mais o Dr. José Carlos Vieira, promotor de justiça. Zé Geraldo, meu colega de classe durante cinco anos, Zé Carlos contemporâneo – um ano mais adiantado.
Nosso modo de ver, de apreciar a vida, os fatos, muitos sobre casos das nossas profissões afins, era o mesmo. E com o mesmo objetivo, o de fazer o bem. Não bastassem nossos encontros sociais, visitas, discussões sobre determinados assuntos da profissão, emergiam tópicos, os mais variados, entre eles o assunto de menor.
Sumaré, naquele tempo, pujante em progresso, desfigurado de atividades (nobres) rural, têxtil, famílias concentradas, tornou-se polo de atração de emigrantes para fornecimento de mão de obra. A cidade, tranquila, “cresceu”, a população aumentou. Cristalino que, e pela lei das probabilidades, poderia haver, além do aspecto antigo, um ou outro incidente, principalmente a grave inconveniência de membros novatos, a turbar o sadio desenvolvimento dos filhos pequenos. A muitos menores lhes faltava o preparo básico, elementar, no mínimo saber ler e escrever.
Tantos casos começaram a chamar a atenção das autoridades, não apenas como “homens bons” sensíveis ao problema. Homens bons, na expressão e sentido de alma e atitudes, independentemente de condição “status”, de recursos virtuosos.
Posso falar, no início da abordagem sobre o menor, acometido de fraqueza, de reprovação de alguns atos, deslizes. Também de menores desvalidos, ou não instruídos, circunstâncias que lhes obstruíram chegar à idade adulta como homens capazes de desfrutar uma vida digna. Deveríamos nós três criarmos uma “FEBEM” (essa expressão se refere a Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor, que foi o desmembramento para cada estado da federação da Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor criada pelo governo federal em 1º de dezembro de 1964, atualmente Fundação Casa), não seria mais adequado burilar-lhes os costumes? Mais ainda? Dar-lhes abrigo? Mil alternativas.
Ponto comum entre nós (acrescentem-se outras pessoas de bem), um centro, uma casa. Não um depósito de “menores infratores” de órfãos, de mal-educados, mas um lar, com carinho, mãos amigas e ensino.
A boa semente, o solo fértil, os frutos, decidiu-se, nasceu a escolinha do Horto. O assunto do menor não se limitou a comentários e ideias da esfera pública; os homens importantes (pelo alto grau ou pelo valor das virtudes), abraçaram a ideia, ajudaram. Afinal, não porque pequena era que não tivesse Sumaré pessoas cultas, inteligentes.
A “escolinha do Horto Florestal”, escola de iniciação agrícola, com objetivo de abrigar e educar, um bom segundo lar. Criada para crianças de 12 a 18 anos cuidava de preparar jovens para serem úteis, dotados de atributos para a empregabilidade.
Amplo prédio, a abrigar, além do salão de visitas e eventos, salas para aulas, copa para servir refeições. Atrás um pequeno declive, também ao lado, terra, muita terra, aguada lá embaixo, onde fluía e flui o ribeirão quilombo, encimado por um vasto lago, por sinal um dos mananciais da cidade.
Funcionários preparados, capazes e dedicados, a tratar e conduzir os alunos. Combinação de severidade, seriedade, sem tolhimento ou violência. Incutiam-se o amor próprio, a autoestima e o respeito pelo próximo, aos iguais, aos mais velhos.
Recebiam assistência básica mais a educação para o aprendizado profissional e também a educação formal, português, matemática, história, geografia, aqui uma referência a professora Maria Tereza Corder Toledo, primeira professora. Recebiam também orientações para o manejo da terra, plantação de verduras e legumes, cuidar de animais e até vacinação de suínos.
Já burilados, até o visual impressionava pelo bom aspecto, as faces a expressar seriedade, confiança, inteligência. Os mais adiantados eram encaminhados para casas comerciais, escritórios de advocacia, cartórios, indústrias, prefeitura, fórum etc. Como resultado, nesses contatos com os novos superiores, com execução de seus afazeres, o viver boa parte do tempo com pessoas aplicadas, vinha o enriquecimento da capacidade, dando-lhes a comprovação do valor do que aprenderam, alçando em futuro breve cargos e profissões destacadas. Homem útil.
Na minha visita ao IPMS recentemente eu ouvi a seguinte pergunta, Dr. Jayr eu gostaria de saber como o senhor se sente, nesse momento, ao deparar com o nosso IPMS, sua história e seus resultados?
Embasbaquei-me. A pergunta foi direta, sem rodeios, incisiva. Não consegui emitir opinião, principalmente o me sentir. Passou-me, pela ideia, naquele curto momento, dizer por exemplo, estou deslumbrado! Mas evitei o termo. Seria curta resposta, não própria e adequada, além de ser um clichê, um elogio banal.
Agora calmo, sem o torpor que me turvava o pensar e sentir, respondi: Estou admirado. Admirado por quê? Ora, eu, apegado e por dever profissional, sempre admirei a disciplina, a organização. Valorizei e valorizo o regramento. Tudo isso, em pouco tempo ali no IPMS eu percebi.
Parabéns a todos ligados ao IPMS – aprendizes, dirigentes e funcionários, por fim toda a população de Sumaré. O IPMS é grandioso, é monumento e prova do que se deve fazer em prol da juventude, estruturando e formando homens de bem para si próprio, ao fim para toda a sociedade.
Quando as ideias dão certo, o IPMS completa 50 anos.
“Quem ama, educa” Içami Tiba
Sumaré, 05 de junho de 2020
Jayr Malaquias.